Um aluno que estudava comigo com 80 anos fracturou o colo do fémur e teve de ser sujeito a uma cirurgia.
Apesar da idade, talvez por ser uma pessoa activa e ter uma alimentação cuidada, a recuperação foi extraordinariamente rápida, tendo em conta o seu escalão etário.
Regressado às aulas perguntei-lhe como estava.
A sua resposta foi esta: “Estou bem, mas ainda não consigo ficar em posição de lotus quando medito.”
E apressou-se a demonstrar a sua mobilidade actual para estabelecer uma comparação.
Se existe forma de medir como cada um de nós abraça os desafios da vida um deles é a forma como os descrevemos.
A resposta poderia ter sido também: “depois da operação já não consigo fazer a postura de lotus”
Mas a escolha foi: “ainda não consigo”.
A primeira frase, já não consigo, encerra o jogo, baixamos os braços, arquivamos esse acontecimento como algo estático e cristalizado.
A segunda, ainda não consigo, demonstra que existe movimento, dinâmica, vida, que cada momento não é estático, mas apenas um retorno de como posso ser melhor e surfar da melhor forma também a impermanência da vida.
Apesar de sermos sempre livres de escolher uma delas, independentemente se vivemos 100 ou 50 anos, a pergunta é qual destas expressões, independentemente da quantidade da vida que temos pela frente, nos proporciona mais vitalidade e possibilidades à nossa existência.